A dublagem é uma arma poderosa para democratizar a cultura e a informação. Portanto serve para educar, divertir e melhorar a vida do nosso povo. Sinto orgulho de dar minha contribuição nesse sentido há tanto tempo.

Herbert Richers

Mensagem da Curadora

Do rádio ao cinema, passando pela TV até se tornar um fenômeno da cultura Pop nacional a dublagem é cultura, é educação, é inclusão etc. e vai muito além da arte e da técnica na substituição e sincronização de vozes como bem disse um dos nossos pioneiros da dublagem brasileira na frase que abre esta exposição. Portanto, você é nosso convidado (a) a passear por essa história e confirmar através das “memórias dubladas” documentadas em jornais e revistas, que estão recheados de curiosidades sobre esta preciosa arte, o porquê ela é tão apaixonante e a temos como um patrimônio cultural. Preparado (a)? Pois, seja muito bem-vindo (a) a primeira exposição sobre dublagem do planeta! Nossa exposição virtual é um carinho e um presente para você fã de dublagem e uma homenagem a todos os profissionais desta arte tão mágica. Divirtam-se!

Maisa Caroline

Dublagem - O que é?

Significado e contextualização da dublagem na cultura brasileira

Dublagem, esta palavra tem sua origem na forma francesa doublage, que significa “dobragem”, portanto, no meio audiovisual, significa a dobra da voz. Ou seja, é quando há a substituição das vozes originais das produções audiovisuais por vozes no idioma local na qual a produção será exibida. É uma maneira das produções estrangeiras se comercializarem pelo mundo e se fazerem compreensíveis e acessíveis ao público, sem gerar discriminação ou estranheza.

 

Há algum tempo as produções também contam com áudio descrição, LIBRAS e continuam a ter legendas, atendendo assim a todo tipo de público e suas necessidades. Todavia, nem sempre foi assim, talvez por isso bastante gente ainda tenha preconceito com a dublagem, sendo a nossa reconhecida mundialmente como uma das melhores pela qualidade do trabalho realizado por todos os profissionais da área. Um ponto importante a ser rememorado é sobre a evolução na qualidade do som e da imagem das produções e das salas de cinema nacionais, juntamente com a expertise dos mestres que repassam aos mais novos todo conhecimento adquirido ao longo de décadas de prática na atuação em dublagem.

 

A oferta e procura pelas versões dubladas é grande, no mercado temos além da televisão aberta e paga, os videogames, o cinema e as plataformas digitais sob demanda, onde as pessoas optam pelas produções dubladas. O mercado de dublagem está em ascensão, é fato que os grandes estúdios se concentram no eixo Rio-São Paulo, por toda a sua história construída, mas isto não significa que estes não absorvam bons atores do Brasil inteiro, ao contrário, a diversidade é necessária e importa.

 

Outro ponto é a crescente e reveladora admiração pelos profissionais da área e a curiosidade por suas carreiras e pelos bastidores da dublagem, o “Como e onde é feito?” “Quem dubla?”, são alguns dos questionamentos do público. Constatado pelos inúmeros eventos que contam com a presença dos dubladores e pela produção de conteúdo sobre esta temática em todas as mídias. Assim com o advento da internet e das redes sociais, essa curiosidade e aproximação vem se tornando cada vez maior, viabilizando conhecê-los e ainda permitindo descobrir como acontece um trabalho que por tantos anos foi anônimo.

 

Foram estes profissionais que atuaram e atuam em grandes estúdios como, por exemplo: AIC (atual BKS), Herbert Richers, VTI, Cinecastro, Delart, Álamo, UniDub e outros que contribuíram muito para a construção de uma memória cultural brasileira ligada ao audiovisual, preservando nosso idioma, criando metodologias e técnicas de interpretação com a voz para dublagem. Sendo assim, criaram-se obras que são verdadeiros patrimônios, registros de um tempo, da arte de dublar e da versão brasileira. Revelando grandes artistas da voz que nos ensinaram/ensinam, emocionaram/emocionam com seus inúmeros trabalhos.

 

Então, quando se pensa em dublagem imediatamente associa-se o processo ao som e a voz que se ouve nas produções carregadas de emoções emitidas através da interpretação do ator/atriz e é por ela que o encantamento se dá. Assim, como quando se escuta uma boa música, uma boa locução/narração na rádio, a voz tem este poder de encantar. E também uma força que se registra nas nossas memórias, causando identificação e individualizando cada voz ouvida, pois de fato são únicas, como as nossas impressões digitais.

 

E isto tem muito a ver com o nascimento da dublagem no mundo e especialmente no Brasil, pois com o surgimento do rádio e do cinema sonoro/falado esse encantamento foi crescendo e cada vez mais essencial para que muitos apreciassem e se fascinassem ao ouvir a programação veiculada nas rádios. A voz, no início, tinha que ser “bonita” e bem colocada, isso seria um atrativo para que o público se interessasse em ouvir o rádio e mais tarde o cinema com os diálogos, obtendo a compreensão do produto na sua totalidade, porque além de sentir a emoção do personagem pela imagem haveria agora, a sua voz, a fala .

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Linha do Tempo

Anos 1920

Nossa viagem inicia-se na década de 1920 do século XX, quando os cinemas no Brasil ainda dividiam o espaço com os teatros, nos famosos Cineteatros e costumavam exibir em suas telonas cinejornais e os principais filmes silenciosos, muitas vezes acompanhado de orquestras e cantores. O sistema de som ainda não era tão bom nas salas de cinema, até uma invenção chegar às telonas e modificar para sempre a experiência nas salas escuras.

1920

O Primeiro Filme Sonoro

✓ Estreava em 1927 nos Estados Unidos o 1º filme sonoro da história, O Cantor de Jazz. Com diálogos e músicas perfeitamente sincronizadas com a imagem.

1927

Repercussão na Mídia

✓ Cartaz do filme O Cantor de Jazz publicado no jornal A Critica convidando o público para assistir ao filme em exibição no Pathé Palace no Rio de Janeiro em 1929.

✓ Reportagem do jornal A Critica comentando a grande repercussão do 1º filme falado do mundo (O Cantor de Jazz) e anunciando sua estreia aos cariocas em dezembro no Pathé Palace.

✓ O filme Acabaram-se os Otários foi o 1º filme brasileiro sonorizado. Os jornais A Manhã e Correio da Manhã em 1929 traziam respectivamente: uma reportagem sobre a grande façanha brasileira executada por Luiz de Barros, a produção de um filme com som e imagens sincronizadas e o anúncio da sua estreia no cinema Rialto enfatizando que este era um filme totalmente falado e cantado em português

1929
Dica!

Assista ao filme Cantando na Chuva de 1952 que retrata a passagem do cinema silencioso para o cinema falado e também o nascimento da dublagem.

Anos 1930

Chegamos aos anos 30 e com ele surge a dublagem, de fato, como a conhecemos hoje. A técnica para substituição de vozes é lançada e tem a autoria dos diretores Edwin Hopkins e Jacob Karol para o filme The Flyer. Entretanto, antes que isto se tornasse comum ao redor do mundo, com a comercialização das produções Hollywoodianas e posteriormente de outros países também, houve a tentativa de se refilmar as produções com atores locais, falando o idioma do país, todavia isso se tornou inviável e muito custoso, inclusive economicamente. No Brasil o filme A Branca de Neve marca a inauguração dessa arte por aqui em 1938.

1930

Branca de Neve

✓ Branca de Neve estreia no Brasil! Anúncio na revista Carioca comunicando a estreia da versão dublada em português da 1a animação em longa-metragem de Walt Disney nos cinemas do empresário cearense Severiano Ribeiro.

✓ Reportagem da revista Fon Fon em três páginas repercutindo o enorme sucesso da animação e da inovação de Walt Disney. Nesta edição foi detalhado aos leitores todo o processo criativo de Walt e ainda foi revelado um pouco dos bastidores da animação, como por exemplo, a revista trouxe imagens das pessoas que inspiraram os personagens dos sete anões. Atenção ao detalhe destacado na terceira imagem que nos revela o real motivo do atraso do lançamento de Branca de Neve.

✓ A revista Carioca em 1938 apresentou aos brasileiros as vozes da Branca de Neve na primeira versão dublada de um produto audiovisual para o nosso idioma. Maria Clara foi a voz nas canções e Dalva de Oliveira foi a voz nos diálogos, grandes intérpretes nacionais que brilhavam no rádio encantando a todos com suas belas vozes.

1938
Você Sabia?
Luiz Severiano Ribeiro foi um grande empresário e pioneiro do audiovisual brasileiro, criando uma das mais importantes e longevas rede de cinemas do país e também o inventor dos cinemas de bairro. Com isso, Severiano permitiu acesso de mais pessoas a 7a Arte, tornando-a popular. Seu filho, Luiz Severiano Ribeiro Jr., também foi um pioneiro em seu tempo, honrando o legado de seu pai e expandindo os negócios da família para a produção e distribuição de filmes nacionais.

Anos 1940

Ah, os anos 40! Época de ouro do rádio no Brasil, as radionovelas eram uma sensação e as “vozes” invisíveis mexiam com o imaginário dos brasileiros e brasileiras despertando todo tipo de emoção no público naquele tempo. Despontavam nas principais rádios do país grandes artistas da voz, cantores, atores, humoristas e locutores que mais tarde participariam da inauguração e da construção da TV e também contribuiriam para o surgimento e consolidação da arte da dublagem.

1940

Benefícios da dublagem e Walt Disney

✓ Moacyr Fenelon, grande cineasta e produtor brasileiro, em entrevista à revista Carioca já afirmava e defendia a dublagem no Brasil. Ele argumentou bastante sobre os benefícios da dublagem, dentre eles destacou a preservação e padronização da nossa língua (patrimônio imaterial), a inclusão e o acesso aos produtos audiovisuais para uma parcela maior da sociedade, o aumento no campo de trabalho artístico etc. E ainda ressaltou a grande qualidade dos nossos profissionais envolvidos com a interpretação e a técnica da dublagem. Um visionário!

 

✓ A revista Mirim comunicava em 1941 a vinda de Walt Disney ao Brasil com mais seis profissionais, integrantes de sua equipe, para estudar nossa dublagem para seus novos filmes.

1941

A dublagem e a Disney


✓ A dublagem é uma arte nova e em ascensão e neste momento é muito associada às animações de Disney, devido a sua insistência em fazer com que suas obras sejam compreendidas no mundo todo no idioma de cada país que forem exibidas. Então em 1942 o jornal A Noite noticiou o sucesso de “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso e a ida de João de Barro (Braguinha) e Almirante (Henrique Foréis), responsáveis por versões dubladas memoráveis, para os EUA aprenderem mais sobre dublagem com o mestre Walt Disney, já que esse e sua equipe tinham um bom conhecimento da técnica. E junto com eles também foi noticiada a ida do maestro Radamés Gnatalli que colaboraria nas produções de alguns filmes do animador.

1942

As Primeiras Críticas

✓ A dublagem nessa época ainda é realizada de forma artesanal e esporádica, mas começava a ter uma boa aceitação pelo público. Foi o que a revista A Scena Muda – Eu Sei Tudo e o jornal Correio Paulistano apuraram com o público em 1946 sobre a dublagem em português do filme "A Casa da Rua 92". Apesar disso, enquanto o público ia se acostumando com a novidade e gostando de ouvir os atores em seu idioma, por outro lado a dublagem sofria duras críticas da imprensa como a revista Fon Fon trouxe em seu título: “Doublagem, Não!”

✓ O romance brasileiro Éramos Seis da escritora Maria José Dupré foi um verdadeiro fenômeno literário nos anos 40 e também premiadíssimo. Reconhecido tamanho sucesso, a obra recebeu inúmeras adaptações ao longo dos anos, sendo a primeira para o cinema argentino. Em 1946 a imprensa noticiou bastante a novidade e fez grandes reportagens sobre o assunto, como a Scena Muda - Eu Sei Tudo que realizou uma extensa crítica a obra, a Revista da Semana que dedicou seis páginas de entrevista com a autora, O Correio Paulistano e a revista Fon Fon que também repercutiram a produção literária e ainda trouxeram a notícia sobre a película argentina filmada pela Sono Filmes e que seria dublada para o nosso idioma para apreciação do público brasileiro.

1946

O início da carreira de Herbert Richers

✓ A essa altura com a sonorização do cinema estabelecida, a dublagem também já era uma realidade no mundo todo, principalmente na Europa, em países como França e Itália que logo se adequaram e incorporaram a nova tecnologia e na América Latina, o México e a Argentina saíram na frente ao iniciarem uma produção de filmes dublados vertidos para o espanhol. Portanto, para não perderem espaço no mercado internacional para os filmes hollywoodianos, os franceses correram atrás para dublarem seus filmes para o português para que pudessem ser exibidos no circuito nacional. Foi o que o Cine Reporter em 1947 noticiou em sua revista, informando aos leitores sobre o processo de dublagem dos filmes franceses para o nosso idioma que inicialmente foi realizado na Argentina e em breve com a transferência tecnologia a dublagem já poderia ser feita em São Paulo.

✓ No mesmo ano, um dos grandes nomes da dublagem brasileira, Herbert Richers, estava no início de sua carreira e atuava como cinegrafista produzindo muitos cinejornais sobre os acontecimentos mais importantes na cidade do Rio de Janeiro e eventualmente fora dela. Por isso, frequentemente tinha seu nome e sua imagem registrados nos jornais e revistas. Como aconteceu em 1947 quando ele virou notícia no jornal A Manhã por produzir uma bela reportagem sobre o Estádio Proletário em Bangu, filmada em uma película sonora.

1947

TV

✓ Em setembro de 1950, então no final da década de 40 , a TV seria inaugurada no Brasil, a partir desta data o hábito de assistir televisão com a família seria incorporada a nossa cultura e posteriormente o hábito de assistir a produtos dublados na telinha também. Entretanto, o rádio e o cinema ainda eram um grande entretenimento em nossa sociedade e esse último estava em plena ascensão e havia incorporado muito bem a dublagem em seus filmes, uma vez que a captação do som direto era um tanto complicada de se realizar e por isso os atores e atrizes iam até os estúdios para se dublarem. Um exemplo dessa nova era do audiovisual brasileiro foi reportado no O Jornal em 1950 quando noticiaram que o 1o filme da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, Caiçara, teve enorme êxito em sua estreia, levando-os também a dublarem a película para o espanhol para ser exibido no exterior.

1950
Você Sabia?

Éramos Seis, primeiramente foi adaptada para o rádio e transmitida pela Rádio Tupi, tendo no papel principal a radioatriz e dubladora Sonia Barreto. Já na televisão ela foi adaptada e exibida ao vivo, primeiramente para a TV Record e tendo no papel principal a também radioatriz e grande dubladora, Gessy Fonseca. Pioneiras da dublagem!

Anos 1950

Os anos dourados chegaram, são os anos 50! O rádio ainda está no auge, levando informação e diversão de norte a sul do país, mas com a chegada da TV grandes transformações aconteceriam no cenário cultural nacional! Os artistas de rádio e teatro migraram para a TV e inventando e aprendendo um novo jeito de se comunicarem, com isso a dublagem também cresce, pois, muitos conteúdos da grade de programação eram importados e precisariam ser dublados, tornando tudo mais acessível.

1950

Sinfonia Amazônica

✓ Anélio Latini Filho foi o grande responsável por criar e produzir a 1a animação brasileira em longa-metragem da história. Num trabalho incansável, que levou cerca de 5 anos do sonho até sua estreia em 1953 no Museu de Cinema de São Paulo. Ele também contou com o apoio, auxílio e trabalho de seus familiares na realização deste feito. E foram feitos para essa obra nada mais, nada menos do que 500.000 mil desenhos em seu pequeno estúdio no Rio de Janeiro. Sinfonia Amazônica é sem dúvidas um marco, uma preciosidade da nossa cultura, do nosso audiovisual e também da nossa dublagem, que teve em seu elenco as seguintes vozes: Nero Morales e Paulo Roberto como narradores e nos personagens Almirante, Matinhos, Abelardo Santos, Antonio Nobre e Bartolomeu Fernandes.

✓ A imprensa brasileira ao longo dos anos documentou bastante a sua trajetória na conclusão desse projeto e trouxe muitas informações ao público sobre o trabalho desenvolvido em seus estúdios, como em 1951 para A Casa, 1952 para Scena Muda – Eu Sei Tudo e em 1953 para a Revista da Semana. Na década seguinte, seu filme ainda seria exibido na TV Excelsior na sessão “Cinema em Casa”.

 

✓ A TV em 1951 ainda era uma novidade e o grande veículo de comunicação e entretenimento era mesmo o rádio. Com seus programas de humor, radionovelas e radioteatros, jornais e musicais, reinavam nas casas e nos corações brasileiros. Portanto, muitos artistas da dublagem começaram suas carreiras artísticas ressoando suas vozes nas ondas do rádio, como os excelentes e saudosos Telmo de Avelar e Domício Costa, que nessa época foram destaques na Revista do Rádio e no Jornal das Moças e atuavam na rádio Nacional, a mais importante do país, responsável por colocar no ar a 1a radionovela do Brasil, intitulada: O Direito de Nascer.

✓ Continuando a navegar pelas ondas do rádio, uma estrela muito querida na dublagem, Nair Amorim, despontava em 1951. E a revista Carioca registrou esse início da magnífica dubladora, ainda como radioatriz e locutora. Contudo, no cinema e no teatro também despontavam outros grandes artistas que no futuro profissionalizariam a arte da dublagem. E uma dessas pessoas pioneiras, foi uma mulher: Carla Civelli, 1a diretora de dublagem, cineasta, tradutora, atriz etc. Tendo atuado ao lado de um dos nossos maiores atores, o incrível Sérgio Britto, como mostra o registro feito também pela revista Carioca em 1951.

1951
Saiba Mais!

Conheça Sinfonia Amazônica, a primeira animação brasileira, clicando no vídeo abaixo!

Você Sabia?

Recentemente foi inaugurado o Museu da Rádio Nacional no prédio da EBC na cidade do Rio de Janeiro. E em exposição podemos ver muitas fotos e objetos raros que contam um pouco dessa nossa história radiofônica, inclusive um estúdio de radioteatro tal qual como era na época de ouro do rádio.

Alice no País das Maravilhas

✓ Em 1952 a revista Carioca fez uma bela reportagem sobre a versão brasileira da animação Alice – No País das Maravilhas de Walt Disney, com a atriz mirim e dubladora Teresinha, a voz cantada e falada de Alice na versão dublada. Versão essa que também foi exibida para o público português, que por muito tempo consumiu nossas versões. Ela também trouxe uma foto inédita dos ensaios de Teresinha ao lado de João de Barro, compositor responsável pela versão brasileira e Paulo Tapajós cantor, responsável por interpretar diversas canções nas animações de Disney. Outro fato interessante desse ano foi a grande reportagem realizada pela Revista da Semana sobre o pioneirismo feminino na 7a Arte. Em 3 páginas eles discorreram sobre a façanha de Tânia e Jovita, duas jovens sonhadoras que se uniram com o propósito de fazer cinema. Elas eram as donas da pequena companhia e responsáveis por todas as etapas que esta arte envolve, inclusive a dublagem.

1952

As Tecnologias Audiovisuais

✓ Em 1953 o Cine Reporter anunciava a chegada de uma nova tecnologia no cinema, o CINEMASCOPE (uma tela alongada e curva), NATURAL VISION (óculos especiais) e o SOM ESTEREOFÔNICO. Ou seja, era o início do cinema em 3D no mundo. Enquanto as tecnologias cinematográficas se desenvolviam pelo mundo, avançavam por aqui as produções audiovisuais e em 1953 foram flagrados no aniversário de 1 ano da revista Cinelândia dois desses pioneiros da 7a Arte brasileira confraternizando no extinto Hotel Glória no Rio de Janeiro, eram eles: Mario Civelli (irmão de Carla Civelli) diretor e fundador da Multifilmes, responsável por realizar o 1o filme a cores do país ( Destino em Apuros) e o incrível Severiano Ribeiro Jr. diretor da Atlântida, Cinegráfica São Luiz e da Cia. Brasileira de Cinemas.

1953

Sai de Baixo!

✓ O cinema ia de vento em popa no Brasil e em 1956 Herbert Richers, excelente e consagrado cinegrafista, representante das mais importantes empresas de cinema no país, decidiu aventurar-se na produção de filmes e estreou nos cinemas com a comédia de sucesso intitulada: Sai de Baixo. E logo em seguida já anunciava mais uma produção como se vê na publicação do Cine Reporter, que também naquele ano, realizou uma enorme reportagem contando sobre sua trajetória, os novos rumos em sua carreira e o contrato que havia firmado com a distribuidora de filmes Sino LTDA. Ah! Selma Lopes, nossa rainha da dublagem, também teve uma carreira belíssima no rádio e a revista Fon Fon registrou um bastidor dela ao lado de seus colegas ensaiando para um programa na rádio Mayrink Veiga.

1956
Você Sabia?

Herbert Richers trabalhou para a família Severiano Ribeiro, para quem gravou e exibiu muito dos seus famosos cinejornais.

TV Tupi

✓ A TV Tupi, primeira emissora de televisão do país, inova e passa a exibir, finalmente, filmes dublados em sua grade de programação. Essa experiência foi amplamente noticiada na imprensa, como se vê em duas reportagens feitas por O Jornal em 1958. Essa novidade resolveria um grande problema que impedia a compreensão total das obras daquela época, a primeira eram as legendas que apareciam quase sempre cortadas no monitor e a segunda correspondia a qualidade da imagem que normalmente não era tão nítida, dificultando assim a leitura pelos telespectadores. Desse modo, com a entrada da dublagem na TV com as películas da série Ford na TV a população em geral só teria a ganhar com isso, pois conseguiria usufruir plenamente do novo entretenimento e consequentemente as emissoras também com a ampliação da audiência.

✓ Ainda em 1958 foi anunciado em A Luta Democrática, uma nova tecnologia que revolucionaria a dublagem no mundo, foi a chegada de um novo projetor que possibilitava a substituição de vozes e sua gravação na fita magnética sem perder os efeitos sonoros. Portanto, essa parte não precisaria ser refeita nos lugares em que fossem dublados. Um belo adianto na produção! E o Ultima Hora flagrou e noticiou a assinatura de contrato de Anélio Latini para o cargo de chefe no Departamento de Desenhos Animados da pioneira produtora e dubladora Cinecastro para a produção de propagandas animadas, visto seu excelente desempenho em Sinfonia Amazônica.

1958

As Produções Nacionais

✓ Ao quase término da década de 1950, a televisão cada vez mais ia encontrando seu formato e abrindo espaço para produções nacionais e versões brasileiras de clássicos da literatura. Era o início das telenovelas como a revista Radiolândia em 1959 acompanhou e reportou aos seus leitores. Em São Paulo na TV-Paulista Líbero Miguel produzia a Princesinha, com José Miziara no elenco, que no futuro, respectivamente, atuariam como diretor artístico dos estúdios Álamo e dublador e 1o diretor de dublagem da Cinecastro, convidado por Carla Civelli, que dirigia dublagens nesse estúdio para TV. Aliás, ela também foi notícia na mesma revista por dirigir com sucesso a peça Helena com Glauce Rocha no papel principal para a TV-RIO. Outra curiosidade noticiada neste mesmo ano foi a produção de discos com fábulas infantis que contava com os grandes artistas do rádio, como a entrevistada Iara Sales, narradora das historinhas.

1959

A união dos artistas e o impacto na dublagem nacional

✓ Ao fim da 1a década da estreia da TV no Brasil, os artistas resolveram se unir em prol de melhorias para sua categoria e se reuniram com os representantes das principais emissoras para regulamentarem a área artística e reivindicarem seus direitos, como mais espaços para as produções nacionais e ao vivo na televisão dando mais oportunidade de emprego a mais pessoas. Um dos pontos mais importantes defendidos foi a obrigatoriedade da dublagem na TV e o pagamento de cachê toda vez que um produto dublado for reprisado. Tudo isto foi noticiado na Revista do Rádio em 1960, enquanto no mesmo ano a revista Cinelândia noticiava a nova conquista de Herbert Richers como produtor, o icônico Golias estava indo para sua empresa fazer cinema. E a revista Radiolândia destacou naquele ano Geraldo José, um dos mais importantes contrarregras e sonoplastas de sua geração. Atuou em rádio, nos radioteatros e também no cinema.

1960

Anos 1960

Chegamos aos anos rebeldes, os anos 60! Uma década muito agitada no campo da política e da cultura brasileira. As Artes continuarão a se desenvolver no Brasil, mesmo enfrentando uma ditadura militar e a censura nos meios de comunicação, a TV e o cinema resistirão e nos presentearão com grandes obras de arte nacionais e estrangeiras muito bem dubladas. Neste momento a dublagem se tornará uma indústria e se estabelecerá de vez com a ajuda da lei que obrigará a dublagem para a língua portuguesa de todo produto estrangeiro exibido na televisão.

1960

Coleção Disquinho

✓ Braguinha o rei das versões brasileiras! Excelente compositor e um dos primeiros tradutores a verterem as obras audiovisuais estrangeiras para o português, também foi responsável por compor inesquecíveis e brilhantes marchinhas de carnaval. E, claro, por criar e produzir as famosas histórias da Coleção Disquinho que atravessa gerações há décadas com as vozes mais icônicas do rádio e que também atuaram na dublagem. Na reportagem da revista Radiolândia de 1961, ano em que seus disquinhos coloridos completavam 10 anos de existência, o repórter Paulo Salgado fez uma bela homenagem a esse artista, enaltecendo o seu talento como músico e letrista esplêndido que era. Aos leitores ele contou um pouco da trajetória de João de Barro no cenário artístico e reafirmou a sua importante contribuição para a arte da dublagem, bem como para a cultura nacional e a educação de nossas crianças. Ao preocupar-se em produzir produtos feitos especialmente para o consumo do público infantil, Braguinha também estimulou a valorização e preservação da nossa cultura, da nossa língua e das Artes.

1961
Saiba Mais!

A Coleção Disquinho está disponível nas principais plataformas de áudio e também no YouTube. Ouça essas deliciosas historinhas com as vozes que marcaram a nossa infância.

Reportagens e Curiosidades

 

✓ A dublagem a partir de agora passava a ser obrigatória na TV e com essa decisão tomada em forma de lei, parte da imprensa e da classe artística e a elite brasileira não ficaram muito satisfeitos e constantemente faziam críticas negativas nos jornais e revistas. No entanto, por outro lado o público de TV aprovava a decisão e só aumentava, inclusive a curiosidade sobre quem eram as vozes em português por trás dos atores e personagens e também sobre como eram feitas as dublagens. Assim, em 1962 a revista Radiolândia fez uma extensa reportagem com Milton Rangel nos estúdios da Herbert Richers e Lauro Fabiano nos estúdios de Ralph Norman desvendando os bastidores dessa arte mágica, contando detalhes e curiosidades sobre o processo de dublagem e também revelando aos leitores algumas daquelas vozes ouvidas nos filmes da TV.

✓ Milton Rangel, um dos pioneiros da dublagem, em 1962, então dublador e diretor de dublagem da Herbert Richers contou para a Revista do Rádio sobre essa fascinante arte que surgia e afirmou ser um trabalho bem remunerado e um novo e excelente campo profissional que se expandia para os artistas de rádio, televisão, cinema e teatro atuarem. Cahuê Filho, Orlando Drummond, Iara Salles, Telmo de Avelar e outros são alguns desses grandes que já trabalhavam com ele nos estúdios Richers.

✓ Nicette Bruno e Paulo Goulart, nossos pioneiros da TV, também atuaram na dublagem. Nicette, por exemplo, na época dublava para Cinecastro o personagem Jeff (o menino herói) da série Lassie e ela e Paulo contaram essa e outras curiosidades sobre suas carreiras, seus diversos talentos e mostraram um pouco da sua linda família para a revista Cine Reporter em 1962.

✓ Peri Ribeiro, o primeiro dublador mirim do Brasil! Filho da estrela maior, Dalva de Oliveira (nossa 1a Branca de Neve) e do compositor Herivelto Martins, Peri começou sua carreira na dublagem com apenas 1 ano de idade e dublou muitos filmes para o Walt Disney, como Bambi e Pinóquio, sob o comando de Braguinha. Legal, não?! Aos 25 anos em 1962 ele revelou essa e outras curiosidades sobre sua trajetória no mundo artístico para a revista Radiolândia.

1962

Dublar ou Não: Eis a Questão!

✓ E a polêmica prosseguiu: “Dublar ou Não: Eis a Questão”. Título destacado de mais uma matéria realizada pela revista Radiolândia em 1963, que trouxe argumentos bem fortes do gerente da Cinecastro, Sr. Baldaconi, defendendo a dublagem como arte, como geradora de empregos para a classe artística e como uma técnica que eleva a experiência do espectador ao máximo, por proporcionar que este desfrute do produto audiovisual sem desviar sua atenção para as legendas, assim perdendo parte do filme. Ah, ele ainda afirmou que o cinema no futuro aceitaria tão bem essa arte quanto a TV logo a aceitou!

✓ A dublagem em 1963 já estava consolidada e havia caído no gosto popular! Assim afirmava a revista Intervalo que além de enaltecer a arte da dublagem e destacar os principais estúdios da época que dublavam para televisão, como: Ibrasom, AIC, Herbert Richers e Cinecastro. Fez uma bela reportagem mostrando e contando todo o processo de sincronização e sonorização (ainda bem artesanal) e trouxe os nomes e imagens de algumas das vozes de personagens de sucesso dos filmes, séries e desenhos animados saciando a curiosidade dos telespectadores.

✓ Newton da Matta, um dos pioneiros da dublagem, foi entrevistado pela mesma revista Intervalo em 1963 e contou que além de radioator, tendo começado ainda criança nesse ofício, foi também comissário de bordo. Uau! Na época ele dava voz ao Dr. Kildare e fazia um enorme sucesso, mas afirmava que a dublagem era uma profissão muito exigente e só o talento não bastava para se manter nela, era preciso ser vivo e perspicaz. Como uma nova área de trabalho que surgia, ele ainda disse que o quanto antes essa arte fosse reconhecida, definida e sindicalizada como já acontecia no México naquele momento, melhor seria para todos.

✓ Maria de Carvalho Lopes, ou melhor, Selma Lopes, rainha e pioneira da dublagem brasileira, é uma artista completa! Tanto é verdade que em 1963 a Revista do Rádio reconheceu seus inúmeros talentos e dedicou duas páginas a ela em uma reportagem que enaltecia todas as suas habilidades artísticas. Atriz, locutora, apresentadora, cantora, dubladora, comediante etc., excelente, primorosa e exemplar em tudo que faz, a revista revelou que a voz de Selma já era uma das mais ouvida nas produções dubladas para TV naquela época e muito conhecida também nos jingles como, por exemplo, no comercial do inesquecível Biotônico Fontoura!

✓ Vidas Secas, filme de Nelson Pereira dos Santos baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos foi destaque na revista A Cigarra e o maior acontecimento cinematográfico nacional em 1963. Produzido pelo multitalentoso Herbert Richers que atuava em várias frentes no audiovisual (produção, distribuição e dublagem) naquele momento e com reconhecido e merecido sucesso, pois eram produções realizadas com muita qualidade por ele, seus parceiros e toda a sua equipe de técnicos e artistas.

1963
Você Sabia?

A artista modernista Lygia Pape criadora do desenho das embalagens dos biscoitos Piraquê também foi cineasta e trabalhou com Herbert Richers na produção do filme Vidas Secas fazendo os letreiros desse grande sucesso cinematográfico nacional.

Um sucesso inegável

✓ O sucesso da dublagem na televisão era inegável a essa altura. Foram muitas reportagens feitas sobre os bastidores da dublagem até aqui, como esta da revista Intervalo em 1968 que mais uma vez dedicou espaço em suas páginas para esse assunto. Um dos fatores confirmados na reportagem para tamanho acontecimento foi a lei da obrigatoriedade de dublagem que realmente vingou e o caso de as legendas aparecerem na telinha sempre cortadas e muitas vezes ilegíveis por conta do contraste muito claro. Aos leitores ainda foi revelado a quem pertenciam as famosas vozes que se ouviam todos os dias na TV nas produções americanas dubladas para o português.

✓ E a técnica da dublagem fazia tanto sucesso e foi tão bem empregada pelo mundo que com o tempo muitos estúdios iam surgindo. Foi o caso da SOMIL (Som Imagem LTDA), empresa que pertencia aos irmãos Barbosa: Jarbas e Abelardo (o Chacrinha). Numa sociedade entre o produtor de cinema e o comunicador, esses resolveram se unir e criar um estúdio para investirem na produção nacional de filmes (montagem, dublagem e mixagem). Assim eles atuariam tanto com o cinema nacional que sempre fez uso da dublagem em seus filmes como nos filmes estrangeiros que seriam dublados para o nosso idioma. E tudo isso foi flagrado e noticiado em 1968 também pela revista Intervalo.

1968

Acessibilidade

✓ É claro que a dublagem é uma arte maravilhosa e proporciona acessibilidade a grande parte da população ao produto audiovisual, contudo os surdos são uma exceção não contempladas por ela e nessa época com a obrigatoriedade da dublagem na TV, muito se questionou o caso dos surdos. Em 1969 o jornal O Globo trouxe uma manchete bem tendenciosa, mas que na verdade reivindicava o direito dos surdos a cultura e diversão através do audiovisual e isso para esse grupo acontece pelo uso das legendas, que na TV foram abolidas. Portanto, é importante lembrar que as legendas devem e precisam permanecer, assim como o recurso de LIBRAS deve ser cada vez mais disponibilizado para atender esse tipo de público. E a legendagem também faz parte do processo de dublagem, pois são realizadas pelos mesmos estúdios e profissionais que atuam na tradução de produções audiovisuais estrangeiras.

1969

Artistas da TV na dublagem

✓ Último ano da década e muitos artistas pioneiros da TV no Brasil passaram pela dublagem como mostrou a revista Intervalo em 1970, ao trazer em suas páginas uma reportagem com Lima Duarte, Denis Carvalho e Roberto Barreiros ao lado de seus respectivos personagens aos quais emprestavam suas vozes. Carlos Marzo, Fernanda Montenegro, Daniel Filho, Tony Ramos, Nathalia Timberg, Ida Gomes, Castro Gonzaga etc. que são ou foram artistas de televisão, atuando em muitas novelas e séries deixaram suas vozes registradas na memória de muitos e na história da dublagem.

1970

Anos 1970

Os revolucionários e dançantes anos 70 acabam de chegar! A repressão e a censura às Artes, se intensificarão e mesmo assim, nesse contexto difícil para se criar algo com liberdade, a música, o teatro, o cinema, as artes plásticas, a dublagem etc. resistirão. Os anos de chumbo foram bem cruéis e ao mesmo tempo foram anos frutíferos, especialmente para a cultura. São dessa época, por exemplo: o surgimento dos computadores pessoais, o videogame, o movimento punk, a música disco, o hip hop e, oficialmente, a cultura geek/nerd, impulsionada pelos fenômenos pop do audiovisual, Jornada nas Estrelas e Guerra nas Estrelas. Portanto, com a evolução tecnológica em todas as áreas do conhecimento acontecendo, e claro, no audiovisual, com a chegada da cor às telinhas, a TV irá se popularizar de vez no país e a dublagem atingirá seu auge, produzindo memórias inesquecíveis.

1970

Alguns preconceitos

✓ A dublagem, arte tão difundida pelo mundo e usada tanto no cinema internacional, como por exemplo, o americano que substitui as vozes de atores superfamosos por de outros atores que julgam se encaixar melhor no personagem, como no cinema nacional por conta da dificuldade na captação do som direto, segue enfrentando muitos preconceitos e resistência por parte da imprensa e da elite brasileira. Estes insistem em não reconhecê- la como arte, técnica, ofício, ferramenta de acessibilidade e inclusão cultural e também como impulsionadora para o cinema nacional. Tema tão em voga no Brasil nessa década decisiva para a área, principalmente, nas questões que se referem a regulamentação da profissão de dublador e todos os direitos por eles pleiteados que começaram a ser desenhados a partir desse momento, foram assuntos abordados por Maurício Barroso e Aloísio Leite Garcia em uma ampla reportagem concedida ao jornal O Globo em 1971.

✓ O Gordo e o Magro sucesso nos cinemas agora na TV! Em 1971 a revista Intervalo noticiava a chegada da clássica dupla de humoristas à TV Tupi de São Paulo. Das telonas as telinhas essa dupla encanta gerações desde a época do cinema mudo/silencioso ao redor do mundo e no Brasil, não foi diferente. Com as vozes de José Soares e Waldir Guedes, respectivamente o Gordo e o Magro com dublagem realizada pela AIC, enquanto as músicas e os efeitos sonoros ficaram a cargo da empresa Blimp Film. Essa aposta, sem dúvida, foi um marco nas produções dubladas para o português e inesquecível na memória de muitos que assistiram.

1971

E vários enaltecimentos

✓ Ao mesmo tempo que a imprensa detonava com a dublagem e seus profissionais, ela também os enaltecia e aos poucos se convencia de seu sucesso e todo esforço, dedicação e empenho que atores, diretores, tradutores e técnicos colocavam na execução de boa dublagem. A revista Cruzeiro, portanto, em 1972, dedicou 3 páginas para esclarecer ao público como era possível atores do mundo todo falarem tão bem o português na TV. Para isso os repórteres foram visitar os estúdios de dublagem e lá puderam ver como a dublagem acontece e também descobriram, por exemplo, que Sandra Campos, Araken Saldanha, Carlos Alberto Vaccari e João Paulo são oriundos do rádio, a primeira grande escola formadora de dubladores com as radionovelas e os radioteatros.

✓ No mesmo ano, em 1972, o Jornal O Globo publicou: “Arte e Técnica dos Filmes Sem Letreiros” título de uma bela reportagem contando tudo sobre os bastidores da dublagem, enaltecendo a como arte e esclarecendo ao público todas as etapas desse processo tão delicado e trabalhoso de verter uma obra audiovisual estrangeira para o nosso idioma, onde muitos profissionais são envolvidos e curiosos detalhes na realização da dublagem a tornam tão mágica e difícil ao mesmo tempo.

1972
Você Sabia?

O ano de 1972 foi muito importante para a dublagem brasileira, pois no Rio de Janeiro Carlos de La Riva fundava no Museu de Arte Moderna a Tecnisom (atual Delart). E hoje o museu guarda e cuida do acervo que outrora pertenceu a empresa Herbert Richers. Já em São Paulo, no mesmo ano, Michael Stoll fundava a Álamo.

Cecília Lemes

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✓ Produtores de Cinema a favor da Dublagem. Título da reportagem do jornal O Globo de 1974, que traz uma reflexão importante sobre essa Arte tão massacrada pela imprensa. Jece Valadão, cineasta, em assembleia junto a outros representantes das companhias cinematográficas decidiram enviar um memorando ao ministro da Educação na época sugerindo algumas medidas na ampliação do mercado de trabalho no campo do audiovisual brasileiro e afirmando que a dublagem não é o problema, pois quem é contra a dublagem, é na verdade contra a língua portuguesa no cinema. Ou seja, não quer se ver e nem se ouvir no próprio idioma.

✓ Ainda no ano de 1974, a jovem atriz e dubladora Cecília Lemes estrela principal do filme: Regina e o Dragão de Ouro (1973), veio ao Rio de Janeiro com parte do elenco promover o filme e fizeram a alegria de muitas crianças pela cidade, como mostrou a revista O Cruzeiro. Essa produção nacional foi filmada no Brasil e no Japão e conta a história de uma menina brasileira amiga de um velho imigrante japonês que antes de morrer lhe confia a missão de encontrar sua neta desaparecida e a entrega uma relíquia de sua família, a estatueta do Dragão de Ouro que possui poderes mágicos. A partir daí VOCÊ SABIA? O ano de 1972 foi muito importante para a dublagem brasileira, pois no Rio de Janeiro Carlos de La Riva fundava no Museu de Arte Moderna a Tecnisom (atual Delart). E hoje o museu guarda e cuida do acervo que outrora pertenceu a empresa Herbert Richers. Já em São Paulo, no mesmo ano, Michael Stoll fundava a Álamo. Regina viajará até o Japão junto com seus bonecos em um pássaro de origami (Tsuru) e viverá inúmeras aventuras até cumprir sua missão. E o elenco desse filme encantador ainda contou com grandes nomes da dublagem, tais como: Líbero Miguel (diretor), Marcelo Gastaldi, Olnei Cazarré, Nair Silva, Borges de Barros e Eleu Salvador.

1974

Greve

✓ Atenção: Dubladores em greve! O ano de 1978, talvez tenha sido o mais agitado e importante da década para a classe artística e especificamente para o campo da dublagem. Há muitos anos os artistas vinham lutando pela regulamentação e profissionalização de suas categorias e isto incluía os dubladores que com o crescimento da TV no Brasil e a importação de produtos estrangeiros viram o volume de trabalho aumentar significativamente, tornando assim a dublagem em uma verdadeira indústria cultural. O jornal o Estadão publicou diversas reportagens, desde 1975 pelo menos, quando de fato ensaiou-se uma organização da classe para reivindicar direitos e o cumprimento de deveres inerentes às empresas dubladoras e aos profissionais de dublagem. A situação ficou tão ruim para alguns dubladores que artistas muito famosos como Ângela Maria e Antônio Marcos usaram suas vozes para cantar em prol da causa, unindo-se e realizando um show na época na sede do Palmeiras com renda revertida para os profissionais grevistas e consequentemente desempregados.

✓ A greve iniciou-se no Rio de Janeiro e durou 4 meses, mais tarde teve o apoio e adesão de parte da categoria em São Paulo. Esse movimento causou bastante impacto nos cenários político, cultural e artístico dessa época e trouxe importantes mudanças. São dessa época a criação de escolas de dublagem, realizadas na Herbert Richers para suprir a falta de profissionais e a demanda volumosa de trabalho. A paralisação fez com que as emissoras de TV tivessem que reproduzir à exaustão alguns filmes e episódios até que tudo se normalizasse. A maioria das empresas também se manifestaram contra a greve, enquanto a Tecnisom foi a única a apoiar a causa defendida pelos dubladores. E depois de muito persistirem e insistirem a greve chegou ao fim, com algumas vitórias para a classe e finalmente a profissão artista também foi regulamentada. Contudo, a luta por direitos e o cumprimento da lei não pararia em 1978 e se prolongaria pelos próximos anos.

1978

O Gordo e O Magro

✓ E no último ano da década, público e profissionais da dublagem são surpreendidos com uma crítica elogiosa à arte de interpretar somente com a voz. No jornal o Estadão em 1980 Liane Alves, enaltece a classe artística, especialmente a anônima arte da dublagem que com muita dedicação, talento e empenho, enfrentando inúmeras adversidades conseguiu se firmar e produzir obras memoráveis. E em seu texto ela afirma que as vozes de O Gordo e O Magro na versão brasileira são bem melhores que as originais e ainda diz que os personagens dos desenhos só são o que são para nós, porque têm a voz e alma de um artista competente por trás. Assim, reconhecendo seu valor e sua importância artística e cultural, ela também advoga a favor da classe na questão de tornar público as vozes dos personagens, exibindo seus nomes nos créditos.

1980

Anos 1980

Anos 80: de década perdida a década mais nostálgica da história! Chegaram os anos mais coloridos e vibrantes até então. Nesse momento de redemocratização do Brasil as Artes assumem ainda mais importância na luta por liberdade e culturalmente foi uma década riquíssima em produções artísticas, sobretudo no cinema americano e consequentemente na TV brasileira com as dublagens de filmes que abordavam o universo jovem. Todas elas tornaram-se verdadeiros clássicos e marcaram a história da dublagem nacional, que ainda aproveitava seu auge e se consolidava dia a dia na telinha e no coração do público, integrando mais um elemento à nossa variada cultura.

1980

Maria Helena Pader

✓ Do cartório para os palcos, Maria Helena Pader, advogada e atriz impecável em tudo que faz, com uma das vozes mais marcantes da história da dublagem, saiu do anonimato para brilhar na telinha. Em 1981 ela concedeu uma entrevista ao jornal O Globo contando curiosidades sobre o início de sua carreira no meio artístico, que começou no teatro até sua estreia nas novelas em 1980. Na reportagem ela confessa seu medo de apanhar nas ruas por causa de sua personagem em Baila Comigo que fazia o maior sucesso na época, mesmo sendo uma vilã. Contudo, desde que apareceu nas telinhas nessa época e também com sua voz nas produções dubladas ela só tem recebido muito amor e carinho dos fãs, sendo uma das vozes mais lembradas, exaltadas e queridas por todos que amam essa arte. Fruto de seu respeito a Arte e comprometimento em sempre entregar o melhor para o público!

1981

A Turma da Mônica

✓ Se lá fora eles tem o Walt Disney, aqui nós temos: Anélio Latini, Ziraldo e Mauricio de Sousa, nossos super pioneiros dos desenhos! O pai da Turma da Mônica em 1983 concedeu uma entrevista ao jornal Última Hora contando tudo sobre sua carreira e os novos projetos da Mauricio de Sousa Produções. Uma delas era a sua 1a animação da turminha que estreava naquele ano e a série de desenhos animados para a televisão que estava em produção no momento. Também foi revelado na reportagem que os artistas selecionados para darem voz aos personagens eram oriundos da TV e da dublagem e Maria Amélia, integrante do grupo vocal Harmony Cats, foi a escolhida como a 1a dubladora da personagem Mônica, atendendo a uma demanda do próprio autor que queria investir na parte musical em suas produções audiovisuais. Com isso Mauricio abria um novo mercado para os artistas de voz, que só cresceria no futuro.

✓ Ainda em 1983 o público conheceria outra grande voz: Oberdan Júnior, um dos melhores dubladores de sua geração, iniciava sua carreira no teatro! A revista Manchete noticiou na época a sua estreia na peça O Menino do Dedo Verde, onde era o protagonista. Logo depois foi para TV, atuando em vários sucessos, inclusive com Maria Helena Pader na mesma novela (Sol de Verão).

1983
Você Sabia?

Um dos personagens mais amado do Brasil criado por Ziraldo, O Menino Maluquinho, transformou-se em desenho animado e sua 1a série animada estreará em breve na Netflix .

Audiolivros

✓ Dublagem é acessibilidade! Com o avanço da tecnologia chegava ao mercado brasileiro os “livros falados”, ou melhor, os audiolivros que permitiram o acesso à informação e a novas culturas por pessoas analfabetas, crianças em alfabetização, pessoas cegas ou mesmo quem não tinha o hábito de leitura e através da novidade poderia ser despertado. A revista Última Hora em 1984 contou sobre essa inovação disponível em fita K7 que chegava ao Brasil pela Audiobook e que em outros países, já vinha sendo usada há um bom tempo por instituições culturais, como por exemplo, o Museu do Louvre e seu audioguia. Para o 1o livro falado brasileiro a empresa convidou as famosas vozes do rádio e da dublagem: Selma Lopes, Alfredo Martins, Paulo Pinheiro, Ribeiro Santos, Ana Paula e Canagé Cotta para interpretarem Carne em Delírio, um romance de Cassandra Rios.

1984

O Primeiro Curso de Dublagem

✓ Intitulada: “Se não pode ser herói, seja seu dublador”, o jornal O Globo em 1985 trouxe uma grande reportagem sobre o mercado de dublagem no Brasil anunciando o 1o curso de dublagem do País. Ministrados pelos dubladores Garcia Netto, Marco Antônio Godinho e Albany Padilha nos estúdios da Rádio Estácio FM, o curso visava formar novos dubladores com qualidade técnica aprimorada e que pudessem logo ser absorvidas pelo mercado, já que esse precisava de renovação. No curso, durante 4 meses, os alunos poderiam aprimorar-se na interpretação para dublagem com aulas de leitura dinâmica, sincronismo, memorização etc. tudo visando uma formação completa tornando os aprendizes em profissionais preparados para atuarem na ágil e mágica arte de dublar.

✓ Nesse mesmo ano, em 1985 o jornal O Globo entrevistou o grupo de crianças da novela A Gata Comeu que chegava ao fim. O Clube dos Curumins, como o grupo era chamado na novela, foi o maior sucesso entre a garotada na época, marcando a vida dos atores mirins e da geração que os acompanhou. A curiosidade desta reportagem está no registro feito do início da carreira do ator Danton Mello, que começou na arte da dublagem por causa da novela que era gravada nos estúdios da Herbert Richers, onde Oberdan Júnior, seu amigo e colega de trabalho com um extenso currículo na telinha e nos palcos aquela época também já emprestava sua voz para alguns personagens nos famosos estúdios de dublagem.

1985

Coluna de homenagens

✓ Artur da Távola em 1986 rendeu homenagens a dublagem em sua coluna no jornal O Globo. A crônica dele valorizou o bom trabalho realizado por dubladores, diretores e tradutores na busca em sempre entregarem a melhor dublagem ao público. Ele também trouxe à tona, mais uma vez, a questão do quanto a dublagem é acessível e inclusiva, bem como o quão significativo para a 7a Arte ela é ao ter se popularizado no Brasil através da televisão atingindo uma maior parcela da sociedade que os cinemas não contemplavam por simplesmente não haver este tipo de espaço na maioria das cidades brasileiras. Logo, segundo ele, a dublagem também ajuda no processo de aculturação do povo que pode conhecer outras culturas e mesmo o cinema através da TV. Embora defendesse a legenda, pois esta torna as produções audiovisuais acessíveis a um outro grupo, Artur declarou-se um grande defensor dessa arte mágica

1986

Álamo e a dublagem internacional

✓ Michael Stoll, pioneiro da dublagem e um grande visionário, resolveu inovar no ano de 1987 e iniciar a dublagem de filmes nacionais para o inglês. Agora no caminho inverso a Álamo conhecida pela qualidade na dublagem para o português atuaria na dublagem para outros idiomas. Para isso, o empresário anunciou no jornal que estava à procura de falantes da língua inglesa e surpreendentemente apareceram nos estúdios 60 profissionais. A nota desse novo campo de trabalho aberto por Stoll foi divulgada pelo jornal o Estadão daquele ano.

1987

A chave para o sucesso de Mickey

✓ Mickey e sua turma são realmente um sucesso mundial e Walt Disney quando insistiu na dublagem sabia que essa era a chave para abrir as portas para que o mundo se encantasse por suas criações. Tanto é verdade que em 1988 no 60o aniversário do personagem Mickey, o melhor, Mi Laoshu era um enorme sucesso na China e a dublagem contribuiu muito para isso. Dong Hao dubladora do Mickey e Wu Hong dubladora da Minnie falaram com alegria ao jornal O Globo da popularidade de seus personagens que repercutiam muito bem na TV Chinesa.

1988

Orlando Drummond na TV

✓ Orlando Drummond, pioneiro da dublagem e o maior dos maiores nessa arte, em 1989 matriculava-se na Escolinha. Era seu ano de estreia no programa humorístico liderado por Chico Anysio com um dos personagens mais icônicos do humor brasileiro, o Seu Peru. Dublador já muito experiente, na reportagem do jornal O Globo ele contou um pouco de sua trajetória artística iniciada no rádio, revelou algumas situações embaraçosas que vivenciou por causa de seus personagens, principalmente o Seu Peru que seu neto e dublador Felipe Drummond com 2 anos na época já imitava. E também confessou que era na dublagem onde ele mais se realizava dando voz a tantos personagens especiais, sobretudo os ligados ao universo infantil.

1989

Reportagem

✓ O último ano da década chega e com ele mais uma reportagem contando um pouco do processo de dublagem que agora avançava com a inclusão de algumas novas tecnologias e também trazendo uma entrevista com algumas das vozes ouvidas todos os dias na telinha pelos telespectadores. Ao jornal O Globo em 1990 alguns dubladores entrevistados na reportagem como: Mário Monjardim, Nizo Neto e Juraciára Diácovo relataram sobre a dificuldade do trabalho que é a dobra da voz e toda a sua beleza recompensadora quando os fãs os reconhecem nas ruas, bem como também queixaram-se sobre a falta de importância dada a esses formidáveis artistas da voz, por exemplo, sugerindo a inclusão de seus nomes nos créditos das produções dubladas, facilitando assim o reconhecimento e divulgação de seus trabalhos.

1990

Anos 1990

Os saborosos e saudosos anos 90 chegaram chegando! Com um anseio por celebrar a vida e libertar toda a criatividade reprimida por conta da ditadura instalada no Brasil, a cultura, sobretudo a cultura pop televisa, ficará marcada na memória afetiva dos brasileiros e na história do país para sempre por momentos icônicos e inacreditáveis transmitidos pela telinha. Essa década é um misto de sensações e emoções como uma deliciosa barra de chocolate, daquelas em que temos uma metade preta e outra metade branca. Visto que, nesse momento, a humanidade vivia a transição do mundo analógico para o digital, provando do gostinho de um futuro próximo e bastante interativo. Sendo assim, a dublagem também acompanhou esse processo modernizando-se com a chegada do Protools e expandindo seus horizontes para além da televisão e cinema, com o homevideo e mantendo-se, claro, no auge com as suas vozes anônimas de sucesso habitando o imaginário popular.

1990

Crianças na dublagem

✓ Até os anos 90 crianças dublando era algo bem raro, mas o cenário começava a mudar e os pequenos atores e pequenas atrizes conquistavam cada vez mais espaço. A reportagem do Estadão em 1991 trouxe algumas dessas vozes que iniciaram suas carreiras ainda criança, como o dublador e diretor Orlando Viggiani, que ingressou na vida artística aos 7 anos de idade no rádio. Experiente, ele enfatizou ao jornal o fato de o ofício do ator em dublagem estar cada vez mais profissional, mediante o acesso a cursos de teatro e a profusão de cursos de dublagem que auxiliam na interpretação, sincronismo e criação de vozes. Cecília Lemes foi outra entrevistada e que também iniciou bem menininha e já adulta ainda era convocada para dublar crianças, algo bem comum à época. Wendel Bezerra e Peterson Adriano, presentes na matéria também iniciaram suas carreiras bem novinhos, e o logo após concluírem o curso de dublagem nas empresas BKS e Herbert Richers, respectivamente com 9 e 10 anos de idade. Por fim, a matéria ainda enaltece o trabalho criativo do ator/dublador por meio de Rogério Márcico que criou uma voz única para o Barney, tornando-o bem mais especial que o original.

1991

Novos cursos e tecnologias

✓ Com o mercado de dublagem crescendo há um tempo, este precisava de novas vozes e para isso precisava formar dubladores para ocuparem espaço no mercado de maneira profissional e qualitativa. Portanto, muitos cursos surgiram nesse período, como foi o caso noticiado pelo jornal O Globo em 1992 com o curso ministrado por dubladores experientes da Herbert Richers e coordenado pelo fantástico dublador e diretor Mário Jorge de Andrade, aconteceu durante 3 meses na sede da Record Motion, no bairro da Urca no Rio de Janeiro, prédio que no passado abrigou a TV Tupi carioca.

✓ Em 1992 a empresa VTI era uma gigante e acabava de adquirir um aparelho de telecinética que consistia basicamente em realizar cópias de produtos audiovisuais, transferindo o conteúdo gravado na película de cinema para a fita magnética de vídeo. Ou seja, através dessa máquina era possível ajustar as cores, realçar as luzes e melhorar o enquadramento das imagens, visando produzir cópias perfeitas dos filmes do cinema para o público de casa. A curiosidade dessa reportagem do jornal O Globo de 1992, portanto, está no processo de duplicação das fitas que envolve muitas etapas (dublagem e legendagem, tradução sonoplastia) e profissionais. Como é o caso dos filmes legendados, onde o tradutor precisava marcar as legendas no roteiro encaixando-as de maneira sincronizada ao tempo em que surgiam as imagens na tela as quais se associavam. Daí, digitava-se as legendas em um disquete e conferia-se uma a uma com o roteiro para só então adicioná-las ao filme e depois de muitas revisões, finalmente a fita estava pronta para ser duplicada.

1992

Dublachopp

✓ Restaurantes e bares temáticos hoje são muito comuns, principalmente os focados no universo geek/nerd, mas nos anos 90 eram uma inovação e existiam bem poucos pelo país. O karaokê, presente em vários barzinhos e festas, foi um verdadeiro fenômeno na década e todo mundo queria brincar de cantar e soltava a voz sem vergonha nenhuma ao microfone. Daí ao juntar a ideia do karaokê com a dublagem, nasceu o “dublaokê”, uma ideia genial de quatro dubladores: Manolo Rey, Mário Jorge, Renato Audi e Marcelo Meireles que criaram um espaço onde o público teria a chance de brincar de dublador por um dia. Com cardápios batizados com nomes de produções audiovisuais famosas na versão brasileira, os clientes além de se reunirem para conversar, comer e beber num local bem descontraído, acabavam aprendendo e conhecendo um pouco mais sobre essa arte anônima com chances de encontrarem as vozes da telinha e do cinema tomando um chopp na mesa ao lado. O Dublachopp ficava no Rio de Janeiro, próximo aos grandes estúdios na região da grande Tijuca e foi um sucesso de público, tanto que o jornal O Globo anunciou a novidade em dois momentos, primeiro em 1993 e depois em 1994.

✓ Uma Babá Quase Perfeita foi um enorme sucesso de bilheteria no Natal de 1993 e prova disso foi a crítica feita no jornal O Globo na época repercutindo a sua estreia nos EUA e Canadá e, claro, recomendando que o público brasileiro fosse aos cinemas assistir e prestigiar essa nova produção dirigida por Chris Columbus (também diretor do clássico Esqueceram de Mim e dos primeiros filmes da saga Harry Potter). Contudo, no Brasil o filme foi um sucesso por causa da televisão que o exibiu dublado, pois nessa época a maioria dos filmes em cartaz no cinema eram exibidos legendados, a exceção eram mesmo as animações de Walt Disney e afins. E a maior curiosidade desse filme em si é revelada no jornal está no fato do personagem principal vivido por Robin Williams ser um dublador. Ator excelente que era, ele sabia usar muito bem a sua voz e emprestou toda sua versatilidade vocal ao interpretar um pai e uma babá amorosos e divertidos nesta clássica comédia familiar.

1993

Nanná Tribuzy

✓ As dores e as delícias de ser um dublador foram o tema principal de uma enorme reportagem do jornal O Globo em 1994 que ainda trouxe muitas curiosidades sobre o dia a dia da profissão, por exemplo, os jargões da dublagem, ou melhor dizendo, o vocabulário usado pelos diretores e dubladores como: vozerio, loop, bater boca, boneco, ganhou dele, fazer retake etc. tudo bem explicadinho como num glossário. Na matéria o público ainda conheceu a história dos estúdios Herbert Richers desde a época que seu fundador a criou para produzir cinejornais, passando pela produção do cinema nacional até chegar à empresa de dublagem referência que era. Foram apresentados também as novas vozes da dublagem, que já dublavam muito naquele tempo, os meninos: Patrick de Oliveira, Sérgio Cantú, Robson Richers e Marcos de Souza. As vozes veteranas de: Carmem Sheila, Ricardo Schnetzer, Carlos Marques, Renato Rosenberg, Telma da Costa, Orlando Drummond e Dário de Castro. Este último, presidente da Associação Profissional dos Trabalhadores em Empresa de Dublagem, recebeu destaque na reportagem por todo trabalho que desempenhava na luta pelos direitos dos dubladores e pelo reconhecimento de sua classe.

✓ É difícil não enaltecer Walt Disney e todos os profissionais de seus estúdios que fazem a magia acontecer, pois é através de suas animações e filmes que muitos artistas de diversas áreas iniciaram suas carreiras ou mesmo deslancharam a partir do momento em que a oportunidade de trabalhar com um produto Disney aconteceu. E em se tratando de dublagem, principalmente, no Brasil isso é um grande impulsionador na carreira de qualquer um por causa da visibilidade enorme que traz participar de uma produção dessas. E isto aconteceu com a cantora Nanná Tribuzy que cantou o tema de abertura de Aladdin e depois foi a voz cantada da Nala em O Rei Leão. Ao jornal O Globo de 1994 ela contou que as crianças a reconheciam e pediam para que cantasse um trechinho das músicas e até autógrafos. A repercussão de seu trabalho foi tamanha que a levou a ascender na carreira artística sendo convidada a participar de um disco com sucessos de Caetano Veloso e ainda obteve a honra de ter sax e gaita gravados em sua demo pelo extraordinário músico e produtor Milton Guedes.

1994

Os Cavaleiros do Zodíaco

✓ Seguindo a tradição Disney, em 1995 eles lançaram um novo sucesso: Pocahontas. Andrea Murucci foi a escolhida pelos próprios estúdios para dar vida à jovem princesa/heroína na versão brasileira. Andrea, jovem atriz e empreendedora, contou ao jornal O Globo que, infelizmente, os dubladores não eram muito reconhecidos aqui no Brasil, enquanto no exterior eram supervalorizados e reconhecidos como os melhores profissionais do ramo, como aconteceu com as animações: Aladdin e O Rei Leão. E essa personagem foi tão marcante em sua carreira que na época ela batizou um prato em seu restaurante com o nome de sua personagem, chamava-se: Salada Pocahontas, contendo milho e ervas. Tudo a ver com o filme!

✓ Cavaleiros do Zodíaco, simplesmente foi um fenômeno nunca visto antes no Brasil! As crianças, os jovens e até os mais adultos apaixonaram-se pelas aventuras dos heróis japoneses. O sucesso rendeu fama aos dubladores na mídia e muitos eventos começavam a surgir para reunir fãs da série e também os dubladores. Em 1995 o jornal o Estadão noticiou o evento na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato em São Paulo dedicado ao fenômeno pop japonês e ainda entrevistou o dublador Hermes Barolli, então com 18 anos e voz do Seya.

1995

Zé da Viola

✓ Lourival Gesteira Filho, mais conhecido como Zé da Viola foi mais um artista que viu sua vida mudar através das animações de Walt Disney. Em 1996 ele foi entrevistado pelo jornal O Globo, sendo destaque do suplemento Meu Bairro, dedicado à zona norte do Rio de Janeiro. Carioca da Vila da Penha, Zé contou um pouquinho dos seus pontos favoritos no bairro e sobre sua história na música e, particularmente, como se tornou a voz das canções de Toy Story. Disse ele à reportagem que estava em estúdio gravando uma música quando foi convidado para realizar um teste para um novo desenho animado. Passou o tempo e a fita gravada com sua voz lindíssima e poderosa foi enviada aos EUA e aprovada na hora pelos técnicos da Disney. Logo em seguida foi convidado para gravar a canção da animação James e Pêssego Gigante. Contudo, seu maior sonho era mesmo gravar um CD com o grupo que formava com seus irmãos, o Gente Fina, onde eles misturavam músicas famosas do pop com o samba-pagode. Algo bem criativo e original naquele tempo!

1996

Os sucessos mexicanos do SBT

✓ A cultura mexicana e a cultura brasileira assemelham-se em muitos aspectos, afinal temos sangue latino. Chaves e Chapolin, por exemplo, dois seriados de nossos hermanos foram um tremendo sucesso no Brasil desde o 1o dia de exibição na telinha do SBT e a dublagem marcante foi fundamental para criar ainda mais conexão e identificação com o público brasileiro. O mesmo aconteceu com as novelas mexicanas que nos anos 90 tiveram um boom por aqui, caindo no gosto popular e tornando-se parte da nossa cultura. Thalia e suas Marias que o digam, pois, parte de seu sucesso vem da brilhante atuação de sua dubladora, a atriz Guilene Conte. Em 1997 o jornal o Estadão fez uma entrevista com a voz dublada em português de Maria do Bairro, novela em exibição naquele ano e rendendo uma audiência estrondosa para a emissora de Silvio Santos. O sucesso da personagem e o carisma de Thalia foram tão impactantes nos telespectadores brasileiros que Guilene muitas vezes era reconhecida e parada nas ruas por crianças portando gravadores pedindo para que ela registrasse sua voz para elas terem como lembrança.

✓ A década de 90 foi bem interessante para a dublagem em termos de popularidade e oportunidades de trabalho que se expandiam a todo tempo com a chegada da TV por assinatura e o homevideo, porém também ficou marcada na história por mais uma greve dos dubladores em prol de ajustes em suas remunerações, visto que o trabalho que desempenham é intenso e exige um preparo muito grande dos atores para sempre entregarem produções bem dubladas ao público e ao mercado. O jornal o Estadão noticiou em 1997 esse movimento da classe dos dubladores iniciada agora, primeiramente, em São Paulo e estendida aos colegas de profissão do Rio de Janeiro visando a equiparação salarial ao que é pago aos dubladores de outros países.

✓ Ainda em 1997 um conjunto de prédios não muito valorizado por suas linhas arquitetônicas, mas com detalhes, como a guarita futurista que lembrava bastante o universo da família Jetsons. Pintado nas cores verde e amarela, neles abrigavam-se muita vida e muitas histórias divertidas que estavam prestes a desaparecerem com a sua demolição. Esses prédios, portanto, tratava-se dos famosos estúdios Hanna-Barbera, localizado na cidade de Los Angeles nos EUA, importante empresa do ramo do entretenimento televisivo mundial e pioneira em séries de desenhos animados. De acordo com a reportagem do Estadão de 1997 a Comissão da Herança Cultural de Los Angeles queria impedir a sua demolição, alegando a sua importância cultural e histórica para a cidade e a televisão. Deste modo pretendiam realizar o tombamento dos prédios, preservando toda esta memória construída ao longo dos anos por Hanna e Barbera naquele local. Foi ali, por exemplo, que foram criados: Os Flintstones, Scooby-Doo, Zé Colméia e tantos outros desenhos animados icônicos que fazem parte da infância de gerações há décadas pelo mundo. Equipamento, as salas de dublagem, os roteiros e desenhos, todo esse acervo e muito mais contam um pouco dessa história admirável para os estadunidenses, porém também para o mundo e, de maneira especial, para nós que a conhecemos através da versão dublada e tudo isso poderia se perder se as pessoas não buscassem a sua preservação. Fato importante destacado nessa matéria foi a busca por ajuda dos fãs, sensibilizando-os para a causa e o trabalho de conscientização com a população, informando sobre a relevância e importância dessa memória para a cultura local e o porquê de se preservá-lo para o presente, tornando-o um testemunho da cultura popular.

1997
Para Pensar!

Por que iniciativas como esta não são costumeiramente vistas por aqui? Será que sempre precisa partir do Governo ou de órgãos específicos ligados as questões patrimoniais a busca por preservação, valorização e divulgação de um patrimônio ou bem cultural, seja ele cultural, histórico, artístico etc.? Como você contribuiu para a valorização e a preservação da cultura brasileira? A Dublagem é ou não é parte da nossa cultura?

Cursos de Tradução

✓ Tradutores são peças fundamentais para a versão brasileira de qualidade, seja no processo de legendagem ou de dublagem, todo o resultado final dependerá e muito desses profissionais executarem uma boa tradução. Portanto, a arte de verter as obras audiovisuais originais para a língua portuguesa não é tarefa das mais simples e precisa respeitar uma série de regras, como ano e local em que se passam os filmes, os vocabulários de cada profissão que aparece nas produções, por exemplo. E em 1998 se viu necessário a abertura de cursos, criando assim uma especialização para profissionais de Letras nesse campo da dublagem e legendagem, mediante a crescente demanda de trabalho que os estúdios estavam tendo com a chegada da TV por assinatura e as fitas de vídeo. O Estadão neste ano, inclusive, realizou uma reportagem na Century XXI Multi Traduções, empresa especializada no ramo destacando sua iniciativa e credibilidade no mercado.

✓ Ainda em 1998 chegava às prateleiras das lojas os primeiros jogos eletrônicos para computador, como o CD-ROM dos Bananas de Pijamas, seriado que fazia o maior sucesso com as crianças da época exibido nas manhãs do SBT. Segundo a reportagem feita pelo Estadão o mais interessante da novidade, que incluía muitos jogos educativos, foi o fato dos personagens terem sido dublados com as mesmas vozes do seriado. Mantendo assim a conexão com as crianças que o assistiam na TV e respeitando nossa língua, nossa dublagem, os dubladores e, sobretudo, os pequenos jogadores, ainda em processo de alfabetização e que precisam ter produtos dublados.

1998

A Usurpadora

✓ Gabriela Spanic de miss a fenômeno mundial das telenovelas! Em 1999 a intérprete de Paola e Paulina, as gêmeas da novela mexicana A Usurpadora, que concorrem lado a lado ao posto de gêmeas mais amadas/odiadas interpretadas por nossa querida e icônica Glória Pires, as gêmeas Ruth e Raquel em Mulheres de Areia, esteve no Brasil e marcou presença nos principais programas da emissora do Senhor Abravanel divulgando sua novela. Novela essa que arrebatou o público brasileiro e explodiu de audiência, deixando a Globo preocupada naquele ano. Sua visita foi documentada por muitos meios de comunicação e PARA PENSAR Por que iniciativas como esta não são costumeiramente vistas por aqui? Será que sempre precisa partir do Governo ou de órgãos específicos ligados as questões patrimoniais a busca por preservação, valorização e divulgação de um patrimônio ou bem cultural, seja ele cultural, histórico, artístico etc.? Como você contribuiu para a valorização e a preservação da cultura brasileira? A Dublagem é ou não é parte da nossa cultura? o Estadão foi um deles, onde ela revelou ter amado a dublagem brasileira ao ponto de levar para casa algumas fitas com os capítulos dublados. Um viva a nossa dublagem! E parabéns a Sheila Dorfman, voz dublada de Gabi no Brasil e que executou um extraordinário trabalho interpretando as gêmeas na versão brasileira.

1999

Os Bastidores

✓ Chegamos ao final da década revelando mais alguns bastidores da dublagem no ano 2000 e com a sensação de que as vozes anônimas estão ficando cada vez mais conhecidas ao mesmo tempo que outras vozes famosas na televisão, por exemplo, estão ocupando mais espaço nas dublagens. Ao Estadão em 2000 foram entrevistados alguns jovens talentos da dublagem como: Jussara Marques (apresentadora do Disney Club/CRUJ e a voz das gêmeas Olsen, Elga do desenho Rei Arnold) que revelou preferir dublar desenhos, pois é possível brincar mais com a voz nesses casos, onde o ator tem mais liberdade de criar, Larissa Cardoso (voz da Melody e escolhida para esse papel através de um concurso no programa Disney Club naquele ano) estreava na dublagem e Fábio Lucindo (voz de Ash e Doug) já estava na dublagem havia 4 anos e Pokémon 2000 logo estrearia com sua voz no personagem principal. Um elenco estelar também foi destaque na mesma reportagem com ênfase para o discurso comum a todos, a de que a dublagem é uma experiência única e encantadora. Por fim, vale o destaque para as sutis diferenças no processo de dublagem que acontecem aqui e no país de origem das animações, foco também da reportagem. Primeiramente os artistas convidados criam as vozes, interpretam e gravam as falas e então só depois os animadores são acionados e criam os personagens baseando-se nas feições dos dubladores, incorporando tudo o que percebem ao desenho. Posteriormente, quando o produto é enviado a outro país onde o processo de dublagem ocorre de fato com a inserção da voz dublada em cima da interpretação e da criação feita pelos atores originais.

2000

Anos 2000

“Eu quero entrar na redeee, promover um debate, juntar via Internet um grupo de tietes...” Bem-vindos aos anos 2000 e ao século XXI! Da internet discada a banda larga, os anos 2000 trarão as primeiras redes sociais, transformarão o diário de papel em um diário virtual. O correio agora é eletrônico e as câmeras são todas digitais. Se antes não era de bom tom ligar para casa de ninguém depois das 10 horas da noite, com o advento do MSN, a madrugada tornou-se o melhor horário para se conversar com os amigos via internet. Contudo, mesmo com o aumento do número de internautas, a televisão mantinha-se como o grande meio de comunicação e entretenimento das famílias brasileiras. Nesta época, portanto, à medida que o país crescia e se desenvolvia nos âmbitos sociais e econômicos, o mercado de dublagem também se expandia, tornando-se mais comum assistir produções dubladas na TV paga e no cinema, por exemplo. E a dublagem por tantos anos feita em grupo, com os dubladores dividindo a mesma bancada viraria saudade em pouco tempo, dando lugar a dublagem feita de maneira individual. Ah, e os fãs, sempre tão importantes, terão um papel primordial na preservação e difusão da memória dessa arte.

2000

Rock in Rio

✓ A dublagem brasileira é espetacular e nossos dubladores dão um show nas produções, sempre! Entretanto, já imaginou a dublagem como atração de um festival de música? Isto aconteceu de verdade, lá em 2001! O jornal O Globo noticiou esse acontecimento na vida da dubladora Kacau Gomes, a voz falada e cantada das personagens Mulan e Tiana da Disney, que se apresentou no palco do Rock in Rio com um show bem pop para galera que celebrava o retorno do festival à Cidade Maravilhosa! Naquele ano, a artista lançava seu 1o álbum e pôde realizar o sonho de participar de um grande evento musical no mesmo dia em que fenômenos do pop nacional e internacional se apresentariam. Com certeza esse dia foi bem marcante na carreira de Kacau e confirmou, mais uma vez, o quão talentosos e completos são os nossos dubladores.

✓ Concursos para descobrirem novos talentos não são uma raridade no mundo artístico e a dublagem também se utilizou desse recurso algumas vezes em sua história. Em 2001 foi a vez da Nickelodeon de tornar o sonho da dublagem real para 3 crianças e os vencedores emprestariam suas vozes para os protagonistas do filme Rugrats - Os Anjinhos em Paris e dublado em São Paulo nos estúdios da Álamo. Os vencedores, portanto, além do prêmio em dinheiro, tiveram um dia de estrela na Terra da Garoa com direito a passeio de limousine e muito mais. Isabela Soriano Sancho, Vitor Kenji Ortenblad e Micaela Ipojuca Cardoso foram os ganhadores, como noticiado nos jornais O Globo e o Estadão daquele ano.

2001

O sucesso das novelas infantis

✓ A luta por reconhecimento e profissionalização das Artes no Brasil vem de longa data e nos anos 2000 a questão dos direitos conexos que deveriam ser pagos aos artistas por obras vendidas ou reprisadas à exaustão na TV se intensificou. Autores, intérpretes e familiares vieram a público mais uma vez para reivindicar seus direitos, como relatado ao jornal o Estadão em 2002. E esse não cumprimento da lei estava prejudicando e muito inúmeras famílias de artistas, inclusive, a classe dos dubladores, que por não terem a sua imagem vista nas telinhas e telonas, mas a sua voz ouvida e apreciada todos os dias nas produções dubladas nas emissoras do país, eram pouco lembrados na hora do pagamento. É fato que os dubladores contribuem muito artisticamente e intelectualmente para as produções audiovisuais quando dão o seu toque único a cada personagem que dublam, entregando interpretações extraordinárias e inesquecíveis, portanto, tão importante quanto todos os artistas são, estes também merecem e devem receber pelas reprises etc.

✓ Os gamers lá em 2002 estavam em êxtase com a novidade que o Estadão anunciou em seu jornal, chegava pela Microsoft para aquele Natal os jogos: Combat Flight Simulator 3 e Age of Mythology. Sendo este último totalmente traduzido para o português, chegando para o público em duas versões, a dublada e a legendada.

✓ A voz fina era uma das características principais da saudosa dubladora Ana Lúcia Menezes que dublou diversos personagens infantis e crianças, como em 2002 quando interpretou uma das personagens mais carismáticas e doces de todas as novelas mexicanas por aqui assistidas. Em Carinha de Anjo, ela dublou Dulce Maria e sua vozinha divertida encaixou perfeitamente na personagem. O sucesso da novelinha foi enorme na telinha do SBT, levando o jornal O Globo a realizar uma entrevista com a dona da voz da pequenina Dulce na versão brasileira.

2002

As vitórias dos fãs

✓ Os fãs de dublagem são intensos, isto é um fato! Sempre ligados nas novidades, vigilantes e atuantes, nunca descansam em busca de mais informações sobre essa arte e não economizam na demonstração de afeto aos dubladores. Graças a esse amor e admiração pelas vozes dubladas e por entenderem sua importância, eles conseguiram realizar grandes feitos ao longo da década, como noticiado pelo jornal O Globo em 2003. A conservação do elenco original de dubladores na redublagem do desenho animado Cavaleiros do Zodíaco que chegava a TV paga naquele ano, depois de explodir de sucesso na extinta Rede Manchete, foi uma conquista dos fãs que batalharam para que isso acontecesse.

✓ Em 2003 mais uma vitória dos fãs brasileiros, agora os apaixonados por Jornada nas Estrelas, trouxeram o ator Leonard Nimoy para participar da 123a Convenção Estelar realizada em São Paulo como noticiou o jornal O Globo. Disse ele à reportagem que amou os fãs brasileiros tecendo inúmeros elogios e, o melhor, Nimoy ainda teve a oportunidade de se ver e ouvir na versão brasileira e também amou a dublagem de seu personagem. E como poderia ser diferente? Ela é um sucesso também por conta da dublagem maravilhosa e icônica dos nossos pioneiros da dublagem!

2003

Eventos de fãs

✓ Anime Osasco, mais um evento feito de fãs para fãs! Em 2004 o jornal o Estadão anunciou a 1a convenção para fãs de animes e mangás da cidade de Osasco (SP) que, inclusive, recebeu total apoio da prefeitura para se realizar. Uma confraternização que durou um final de semana e contou com diversas atrações, como concurso de cosplay, karaokê etc. incluindo, claro, palestras com dubladores. Eventos assim ao longo dos anos tornaram-se bem comuns e contribuíram demais para valorização da arte da dublagem e uma maior aproximação entre o público consumidor das produções dubladas e os dubladores, que aos poucos saíam do anonimato e passavam a compartilhar momentos incríveis de trocas com seus fãs.

✓ “Mania de Dublagem” manchete do jornal Estadão em 2004 que confirmava aquilo que todos nós já sabemos: a preferência do público brasileiro pela dublagem. Sim, a dublagem é hábito e faz parte da cultura brasileira, afinal são gerações que cresceram em frente à telinha consumindo as diversas produções dubladas. Cientes dessa característica os canais na TV fechada passaram a investir e muito em dublagens, como as emissoras TNT e Telecine, essa ainda criou o Telecine Pipoca, um canal exclusivo da rede para exibição de filmes dublados. Newton da Matta, Marco Ribeiro, Mônica Rossi e Márcio Seixas foram os entrevistados nesta matéria, onde contaram um pouco mais sobre os bastidores da dublagem que agora já se realizava separadamente nas cabines e com vários canais de gravação a disposição e ainda revelaram uma curiosidade da profissão um tanto divertida, a dublagem de efeitos sonoros do tipo: barulho de espirro, tosse, beijos e outros mais que estiverem na cena.

2004

Matéria sobre a fã-dublagem

✓ Há quem seja contra, há quem seja a favor da internet e o mesmo acontece com as fãdublagens realizadas e compartilhadas na web. Contudo, a verdade é que tudo tem dois lados e nem uma nem outra é totalmente ruim ou boa. A internet veio para aproximar as pessoas e democratizar o acesso à informação, com isso permitiu também que a dublagem se tornasse mais popular e foi virando uma brincadeira saudável entre os jovens que sonham em seguir nesta carreira. Na reportagem do jornal o Estadão em 2007, é enfatizada essa prática, que iniciou-se como uma paródia para a TV e caiu na rede, porém nem todas possuem uma conotação sexual ou são recheadas de palavrões. Existem grupos que se reúnem para dublar, principalmente, séries e desenhos japoneses inéditos no Brasil de maneira a promover a acessibilidade e em caráter experimental da arte. Usando-a como uma descoberta da arte da interpretação e um treinamento para ingressar na profissão futuramente. Através dessa brincadeira, os fãsdubladores acabam incentivando a indústria do entretenimento a buscarem dublar de forma profissional os produtos que o público deseja consumir e ao mesmo tempo demonstram carinho aos profissionais da área e que valorizam essa arte.

2007

Famosos na dublagem (Star talents)

✓ A dublagem encanta milhares de pessoas pelo país há décadas e muitos telespectadores sonham em viver essa magia todos os dias, fazendo dessa arte seu ofício, porém, não se enganem, nem tudo é só diversão. Obviamente que trabalhar com arte é encantador, divertido, prazeroso e mexe com nossas emoções, mas por trás do fascínio que ela causa há muito estudo, dedicação, técnica etc. O jornal O Globo em 2009 fez uma reportagem, justamente, abordando este assunto e mostrando ao público um outro lado de profissões “mágicas” como a dublagem e os programadores de jogos digitais. No caso da dublagem, é preciso ser ator/atriz profissional, ter um raciocínio rápido, boa dicção, conhecimento de outras línguas também ajuda e tantos outros requisitos, todos possíveis de serem aprendidos e lembrando-se que somente o talento não é garantia para que se execute um bom trabalho artístico, é preciso mais.

✓ Há muito tempo se faz uso de profissionais famosos na dublagem, mas dos anos 2000 para frente a sensação do público será a de que ocorreu uma invasão de rostinhos e vozes conhecidas nas versões dubladas. Em 2009, por exemplo, o jornal O Globo realizou uma pequena entrevista com o ator Rodrigo Lombardi, que fazia sua estreia como dublador e se saiu super bem como protagonista de uma animação Disney. No entanto, não se pode elogiar todas as celebridades que passam por essa experiência e isso não é culpa dos profissionais da dublagem. Trata-se de uma questão mercadológica, uma estratégia comercial para que o produto audiovisual venda-se mais. Como na versão original, atores famosos são convidados para interpretarem alguns papéis, achou-se em algum momento que isso poderia ser replicado nas versões dubladas pelo mundo, embora o processo de colocação de voz seja invertido, na maioria dos casos, no original e na dublagem. Entretanto, quando se diz que a arte da dublagem é muito difícil e precisa ser feita por atores, é porque ela não somente diz respeito a sincronização de bocas, mas vai muito além disso e só atores muito bem preparados e dirigidos, comprometidos na entrega de sua arte conseguirão passar a emoção certa para quem o assiste na versão dublada.

2009

Mario!

✓ Último ano da década, o tempo parece passar rápido demais e quanto mais a tecnologia avança, mais forte é a sensação de um mundo acelerado. O que é novo hoje, amanhã já envelheceu. Todavia, isso não é sinônimo de que algo não serve mais e não tenha seu valor, mas sim, que possa ser aperfeiçoado e mantendo-se novo ainda. É o caso do personagem Mário, altamente carismático e um marco na história dos videogames. Em 2010, seu dublador, Charles Martinet, veio fazer uma visitinha ao Brasil ao participar da feira de games (GameWorld) realizada em São Paulo. Muito simpático e acessível aos fãs ele concedeu uma entrevista ao jornal o Estadão e contou um pouco de sua carreira e como se tornou a voz icônica de Mário Bros nos jogos, a partir do Nintendo 64. Foi através de um teste em uma feira da Nintendo, onde precisava-se de um ator para testar uma tecnologia nova, algo que eles chamaram de marionete digital, com sensores que captavam e registravam os movimentos do artista. Então, deu-se o insight em Martinet que adicionou uma voz fina ao personagem durante o teste, assim agradando a todos. Ainda na mesma reportagem uma curiosidade muito bacana foi revelada aos leitores, as vozes ouvidas em muitos jogos digitais eram, na verdade, bem conhecidas do público, como dos atores de cinema: Lynda Carter, Jack Black, Mark Hamill e outros.

2010

Anos 2010

A Era dos influenciadores digitais chegou, são os anos 2010! Nesta década a dublagem se tornará mais pop do que nunca, uma profusão de páginas nas redes sociais e canais do Youtube irão surgir para homenagear os artistas e difundir a história dessa arte a mais pessoas, que nesse momento deixará de ser anônima, transformando os dubladores em ícones pop. No fim da década chega a Pandemia do Covid-19, isolando todos em suas casas, nos distanciando, causando tristeza e mais uma vez a arte será nossa companheira, nos salvando e trazendo um pouco de alegria em tempos tão difíceis. E assim a dublagem como tantos outros ofícios encontrará um novo modelo de existir em meio ao caos.

2010

Dublagem na Sapucaí

✓ A década inicia-se em ritmo de festa! Em 2011 a dublagem foi para a avenida com a Unidos da Tijuca e seu enredo sobre o medo no cinema. Para ajudar a contar essa história na avenida, a escola de samba convidou 10 dubladores para se unirem à família amarela e azul e desfilarem toda sua arte na Sapucaí. Foi uma bela homenagem da escola de samba ao cinema e a dublagem poder ter algumas vozes tão famosas enriquecendo o desfile. Contudo, a maior curiosidade registrada na reportagem do jornal O Globo com os dubladores, está na revelação de que dois deles além de emprestarem suas vozes a diversos personagens são também coreógrafos e responsáveis por mudarem a história do carnaval carioca e brasileiro com a icônica coreografia do carro do DNA em 2004 também pela Unidos da Tijuca. Portanto, onde tem dublador, tem talento, tem genialidade e tem história! Marcelo Sandryni e Roberta Nogueira são os nomes desses artistas brasileiros da voz e da dança.

✓ Ainda em 2011 acontecia a 9a edição da FICI em São Paulo, que além de celebrar o cinema infantil, também celebrava a dublagem. Segundo noticiado no Estadão, a profissão estava em alta no momento devido ao aumento do acesso a canais fechados, ao cinema 3D e a própria preferência do público por se ouvir cada vez mais em português. A fim de promover as artes e fazer com que as pessoas conhecessem mais sobre o processo de dublagem, o festival realizou e proporcionou às crianças e suas famílias a emoção de vivenciar uma obra ganhando corpo na versão dublada, acompanhando os atores interpretando ao vivo os personagens de 7 filme do festival.

2011

Seminário de Dubladores

 

✓ A dublagem brasileira em 2012 ganhou seu primeiro Seminário produzido pelo site Dubladores.com, um evento bem interessante e inédito para celebrar uma arte tão apreciada e que merecia mais reconhecimento e valorização. Mais um passo importante nessa história da dublagem e da cultura brasileira e que mereceu até uma notinha no jornal o Estadão, convidando a conhecer mais desse universo e a prestigiar os dubladores. Dentre as atrações convidadas, os grandes dubladores: Ricardo Juarez, Marisa Leal, Christiano Torreão, Hermes Baroli, Silvio Navas, Marcio Seixas, Luiz Feier Motta, Marco Antonio Costa, Nelson Machado, Lina Rossana e os netos do ilustre dublador Orlando Drummond.

2012

Diversão Brasileira

✓ Carnaval e dublagem são duas coisas que combinam demais e combinam tanto que a dublagem tem um bloco só dela o: Diversão Brasileira. Um bloco criado por dubladores- foliões lá em 2010 e em 2014 realizava seu 4o desfile no bairro da Tijuca, onde se encontram a maioria dos estúdios de dublagem no Rio de Janeiro, portanto, a folia foi ali mesmo no quintal de casa da dublagem junto dos fãs. Imagine a diversão que não é poder cantar e dançar as versões dubladas nas próprias vozes que dublaram as músicas nos filmes e desenhos animados ao vivo? Fantástica essa ideia de transformar a dublagem numa versão carnavalesca, tão fantástica que o jornal O Globo fez questão de registrar mais esse momento histórico. E a coisa é séria, tem ensaio, desfile e samba- enredo. A cada ano o bloco homenageia algum tema referente a dublagem e em 2014 o escolhido foi o amado seriado Chaves.

2014

A alta demanda dos serviços de Streaming

✓ Consolidadíssima! A arte da dublagem cresceu, evoluiu e chegou a todas as mídias e com os streaming firmando-se e mais e mais games sendo feitos o mercado só aumentava, precisando de muitas vozes novas para dar conta da enorme demanda de trabalho, que se expandia com a abertura de novos estúdios no Rio e São Paulo e aos poucos também conseguindo se instalar em outras praças. Então, o jornal o Estadão fez um retrospecto bacana da história da dublagem no Brasil que já tinha 80 anos e passou por diversas transformações ao longo dos anos, mas algumas coisas nunca mudam e questões ligadas à regulamentação ainda são motivos de luta e disputa. O interessante foi a reportagem antevir os próximos passos que a dublagem seguiria, o do trabalho remoto. Já que, a dublagem remota era uma realidade possível de acontecer e coexistir com as feitas tradicionalmente nos grandes estúdios.

✓ A dublagem no Brasil é um hábito e através dela conhecemos muitas culturas e produções do mundo todo, mas, o contrário será recíproco? Será que fora do país as outras culturas também amam a dublagem? E nossas produções, são vertidas para muitos idiomas? E a resposta é: sim para todas as perguntas! Em muitos países a dublagem é obrigatória, aclamada e sinônimo de acessibilidade e inclusão e mais ainda, ela valoriza os seus artistas da voz e o idioma pátrio, uma das características de identificação cultural de um povo. Portanto, muitas produções nacionais são exportadas e dubladas há anos e para diversos países, o curioso é que na Rússia há fãs tão alucinados e intensos por nossas produções que eles próprios traduzem, adaptam e dublam nossas novelas para o russo e compartilham. É! Foi uma descoberta curiosa essa revelada pelo jornal o Estadão, mas bacana perceber o movimento oposto acontecer.

2018

O Mundo Parou

✓ Último ano da década chegou revolucionando nossas vidas e nossos hábitos. Em 2020 a pandemia do COVID-19 pôs todos em uma quarentena sem fim, gerou mais ansiedade e medo do que nunca e ao mesmo tempo transformou nossas casas em nossos locais de estudo, lazer e trabalho, tudo ali acontecendo ao mesmo tempo através de uma tela. Telas que há anos nos proporcionam sentir inúmeras emoções e que a dublagem contribuiu imensamente para os dias de isolamento. No ano em que a dublagem completa 90 anos de história e vivendo uma situação totalmente adversa, inédita e global no aspecto da saúde, o jornal O Globo nos traz a mestra das mestras, dama da dublagem, Selma Lopes compartilhando toda sua sabedoria numa reportagem celebrativa à dublagem e a nossa amada artista. No auge dos seus 91 anos e cheia de vitalidade para dublar e ensinar aos novos que chegam ao mercado, a energia da voz de Whoopi Goldberg nos inspira.

2020

Anos 2020

E de repente os anos 2020 chegaram trazendo tudo, uau! Trouxeram a vacina contra aquele- vírus-que-não-deve-ser-nomeado, inovações, esperança e novos sonhos, como a de uma mega reunião de dubladores e fãs e ainda viralizaria a dublagem no Tik Tok, tornando-a mais pop do que nunca! O que esperar, então, desta nova década? A dublagem remota veio para ficar? Será híbrida a partir de agora? Muitas perguntas, muitas dúvidas, quase nenhuma resposta. Mas a nova década está só começando e com certeza já inaugurou uma nova era na dublagem brasileira.

2020

DublaCon

✓ A DublaCon é uma realidade! A maior, a mais linda, a primeira convenção sobre dublagem do planeta acontece em 2021. Um dia inteirinho de homenagens aos profissionais da dublagem com diversas surpresas para o público. Um dia histórico e um evento épico que foi feito com muito carinho e dedicação imensa por fãs para os fãs curtirem, se divertirem e compartilharem momentos únicos de felicidade com seus ídolos da versão brasileira. Ao jornal Estadão, Ygor, idealizador da convenção, esteve ao lado de alguns dubladores e agora também seus colegas de profissão contando um pouco da história da dublagem e o quão importante é realizar um evento desses. E o Versão Dublada e a equipe prometeram e entregaram muito mais, não foi? Já marcou na história assim como as vozes homenageadas na convenção estão marcadas em nossas vidas e corações, para sempre!

2021

Dessa vez vai ser presencial!

✓ Vamos construir mais memórias? Esta página da história da dublagem brasileira ainda está em branco, porque nós vamos escrevê-la juntos, celebrando a arte e os encontros em um evento presencial muito mais incrível do que foi a edição de 2021. Te esperamos na DublaCon 2022!

2022